O seu segundo ano no comando do Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer terá o desafio de driblar, em 2017, uma série de obstáculos políticos para manter a governabilidade e ter força no Congresso Nacional para aprovar reformas como a previdenciária e a trabalhista, avaliam analistas ouvidos pelo G1.
O peemedebista, que assumiu a Presidência após o impeachment de Dilma Rousseff, vira o ano com um cenário político nebuloso.
No horizonte do presidente da República, há preocupações com os imprevisíveis desdobramentos das delações premiadas dos executivos da Odebrecht, com o processo em andamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode cassar o mandato dele e com os baixíssimos índices de popularidade que ele tem registrado nos últimos meses.
Temer foi citado no pré-acordo de delação premiada do ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho. Segundo o ex-dirigente da empreiteira, o presidente pediu, em 2014, R$ 10 milhões para campanhas do PMDB. Os fatos são investigados pela Operação Lava Jato.
Além disso, o TSE apura se a chapa formada por Dilma Rousseff e Temer para a eleição presidencial de 2014 cometeu abuso de poder econômico e se beneficiou do esquema de corrupção que atuou na Petrobras. Se o tribunal concluir que sim, Temer poderá ser afastado da Presidência.
Segundo pesquisa Ibope, Temer tem aprovação de 13% dos entrevistados. De acordo com o instituto Datafolha, apenas 10% dos entrevistados avaliam como ótima ou boa a gestão do peemedebista.
Em meio a este ambiente político em crise é que o governo buscará aprovar no Congresso Nacional, ao longo de 2017, as propostas de reforma previdenciária, com idade mínima de 65 anos para homens e mulheres poderem se aposentar, e trabalhista, com 12 pontos que poderão ser negociados entre patrões e empregados e, em caso de acordo, passarão a ter força de lei.
Para o professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, na medida em que saírem os conteúdos das delações da Odebrecht, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário do Programa de Parcerias para Investimentos (PPI), Moreira Franco, dois dos principais conselheiros de Temer, poderão deixar o governo (os dois também são citados).
“Padilha e Moreira Franco podem cair no ano que vem com as delações. Isso vai reforçar a necessidade de uma reforma ministerial”, diz Fleischer.
Na avaliação do cientista político da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Sérgio Praça, o agravamento da crise política e da impopularidade de Temer deverão resultar em impacto negativo ainda maior para o governo, superior até ao desgaste causado pela demora na recuperação econômica.
Para Praça, apesar da expectativa da retomada do crescimento, o mercado ainda não se recuperou da crise e voltará a investir no país em ritmo mais lento do que o esperado pelo Ministério da Fazenda.
“A economia obviamente não está bem, mas a crise política consegue ser pior. Com as medidas adotadas, a crise econômica fica um pouco mais difícil de o cidadão enxergar no seu dia a dia. Só que com a turbulência causada pelas delações, os índices de popularidade devem cair ainda mais”, diz o cientista.
Delações
Além de Cláudio Melo Filho, outros 76 executivos e ex-executivos da Odebrecht fecharam acordo de delação premiada com o Ministério Público. Ex-diretor da empreiteira, Melo Filho citou, ao todo, 51 políticos de 11 partidos, entre os quais Temer e os principais assessores do presidente.
Um dos citados, o advogado e amigo de Temer José Yunes, que despachava do Palácio do Planalto, pediu demissão do cargo de assessor especial da Presidência em 14 de dezembro.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) já protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) os acordos de delação dos 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht e, a partir de fevereiro, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava Jato na Corte, decidirá se homologa ou não os acordos.
Para Sérgio Praça, a tendência é que ocorram demissões no primeiro escalão do governo e no núcleo mais próximo a Temer quando o conteúdo das delações da Odebrecht vier a público.
“Acho que o Temer está pensando mais na própria sobrevivência. O negócio é que, no momento em que Padilha e Moreira Franco saírem, o Temer sai. O governo é o PMDB, não é o Temer”, diz.
O especialista avalia também que “falta hierarquia” entre os ocupantes do Palácio do Planalto em razão da proximidade entre Temer e alguns de seus ministros.
“Não há relação de hierarquia entre Temer e os ministros. Todos estão na mesma estatura e por acaso têm o Temer como presidente após o impeachment. É muito mais esquisito, tendo essa configuração, que o Temer sobreviva. Ele não é o chefe. Acho que mesmo que ocorram demissões, não vai adiantar muito”, afirma.
Para o cientista político e professor do Insper, Fernando Schüler, se algum ministro estiver envolvido em novos escândalos, o governo deverá agir “rápido” e não repetir a reação no caso do ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima, que pediu demissão somente uma semana após a deflagração da crise política motivada pela denúncia do então ministro da Cultura, Marcelo Calero.
“O governo não soube agir e o Geddel não colaborou com o presidente. Ele deveria ter saído logo e assumido a responsabilidade, mas deixou que o governo sangrasse. Isso não aconteceria com o Padilha.”
Fonte:G1
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